segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O Bairro em que Coexistimos

O chamado da chuva é inevitável
Do meu quarto ouço tudo isso

Aquele Marlboro amassado não serve mais
Mas andando pelo bairro
Eu encontro seus rastros

Faz pouco tempo que você chegou
Mesmo estando aqui por muito tempo
E eu, que moro nessa casa desde que nasci
Nunca ousei sentir seu cheiro pelas ruas


O campo parece o mesmo
Nessas tardes chuvosas os moleques desaparecem
Mas consigo ver todos eles correndo
 Em minha cabeça

O rio, que é sujo desde sempre
Está transbordando
E eu, que já estou bem grande
Não posso fazer as pedras quicarem

Volto ao caminho passando por todas as lanchonetes
Umas são antigas, comia aqui com a família
Outras são mais novas, como aqui com amigos
As mesmas barraquinhas, as mesmas comidas de rua

Já encharcado, chego onde eu queria
Porta aberta, como de costume
E uma recepção carinhosa de um amigo canino
Sento na sombra da marquise, e posso acariciar o cachorro
Mas o olhar de seu dono me deixa nervoso

É claro que sou recebido com um café
Mas nenhum palavra é proferida
Consigo ver em sua expressão a dúvida
Aliás, quem é o louco que cruzaria o bairro nessa chuva?

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